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03 maio, 2016

Astro_poemas (15) : Haroldo de Campos

 

Hieróglifo para Mário Schenberg

o olhar transfinito do mário
nos ensina
a ponderar melhor a indecifrada
equação cósmica

cinzazul
semicerrando verdes
esse olhar
nos incita a tomar o sereno
pulso das coisas
a auscultar
o ritmo micro -
macrológico da matéria
a aceitar
o spavento della materia (ungaretti)
onde kant viu a cintilante lei das estrelas
projetar-se no céu interno da ética

na estante de mário
física e poesia coexistem
como asas de um pássaro -
espaço curvo -
colhidas pela têmpera absoluta de volpi

seu marxismo zen
é dialético
e dialógico

e deixa ver que a sabedoria
pode ser tocável como uma planta
que cresce das raízes e deita folhas
e viça
e logo se resolve numa flor de lôtus
de onde
- só visível quando damos conta -
um bodisatva nos dirige seu olhar transfinito
Haroldo Campos, tradutor e poeta, impulsor do concretismo, recolle neste poema o dobre compromiso, ciencia e loita social, que levou a Mário Schenberg a percorrer camiños tan díspares como os que o levaron, por unha banda á mecánica quántica, a termodinâmica e á astrofísica e, por outra, á expulsión da universidade ou aos cárceres da ditadura.

Imaxe superior:
BANDEIRINHA (1958): Volpi, Alfredo. Museu de arte contemporânea da Universidade de Sao Paulo.



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